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Médicos já avaliam consequências do fechamento da UTI Pediátrica na Santa Casa de Anápolis



Rumores sobre o serviço ser suspenso por falta de recursos financeiros e deixar de atender as necessidades de Anápolis e região cresce entre os profissionais de saúde. Mas na prática, qual o impacto direto para a vida das nossas crianças?

Para responder a isto, precisamos entender qual o papel da Santa Casa na assistência materno-infantil da população de Anápolis e região. A Santa Casa é a maior maternidade do interior de Goiás, com mais de 3.500 partos por ano, o que representa quase 40% dos contabilizados na região centro-norte do Estado. Como é referência regional para Gestação de Alto risco, mais de 90% dos partos nessa complexidade são feitos lá.

Para os casos mais graves, ela dispõe de quatro UTIs SUS, duas UTIs Adulto com 16 leitos para as mamãe, uma UTI Neonatal com 10 leitos para os recém-nascidos e uma UTI Pediátrica com 10 leitos para as crianças maiores. Para ter acesso a esse suporte de saúde, existem duas portas, uma é o Pronto Socorro Obstétrico do hospital, que acolhe as gestantes com intercorrências e realiza os partos, sobretudo os de alto risco, outra é a regulação municipal de pacientes vindos de outras unidades.

No caso de partos prematuros ou recém-nascidos em estado grave, há a necessidade imediata de socorro na UTI Neonatal. Prematuros podem ficar até 3 meses dependendo do suporte de UTI, porém, com 28 dias de vida, são transferidos da UTI Neonatal para a UTI Pediátrica, abrindo assim novas vagas para outros recém-nascidos. Já para o socorro de crianças em estado grave na UPA Pediátrica ou em outros hospitais da região, o único suporte local de UTI Neonatal e Pediátrica pelo SUS é a Santa Casa.
“Todos já entenderam que a UTI Pediátrica da Santa Casa é condição absoluta para que a assistência regional de nossas crianças e recém-nascidos flua de maneira tranquila e segura?”, questiona a pediatra Dra. Gina Tronconi. “Não vejo outro prognóstico senão o caos completo no atendimento a estes pacientes, caso a Santa Casa feche sua UTI pediátrica”, acrescenta a médica.
CAOS
Imaginando que a unidade seja fechada, o caos começa pela UTI Neonatal, que não poderá transferir os bebês maiores para lá, impossibilitando o recebimento de outros recém-nascidos. Sem vagas na UTI Neonatal, o Pronto Socorro Obstétrico não poderá receber as gestantes de alto risco ou com parto prematuro, tendo o município que encaminhá-las para Goiânia, com risco gravíssimo para a gestante e para o bebê.

Já na UPA Pediátrica e outros hospitais da região, sem a possibilidade de internar as crianças graves na UTI da Santa Casa, o município precisará transferi-las para Goiânia ou até mesmo para Uruaçu, que está há mais de 250 km daqui. “Se considerarmos o risco para uma criança em estado grave, associado ao transtorno para a família no acompanhamento diário junto ao seu bebê, o que pode durar meses, em lugar tão distante, aí temos uma catástrofe total”, analisa Gina.

Os rumores de que o fechamento está próximo de acontecer continuam. A direção do hospital soltou uma nota afirmando o risco real de suspensão do serviço. Segundo a nota, há mais de seis meses que o governo municipal e o estadual estão cientes da situação. O ponto chave estaria no fato de que o que o SUS paga é insuficiente para cobrir as despesas, o que exigiria a participação do Estado e do Município no reforço financeiro, e que parece não acontecer. Ainda segundo a nota, devido à dificuldade financeira, a instituição não conseguiria manter os médicos plantonistas por mais tempo, o que provocaria o fechamento.

Segundo a médica da UPA e da UTI Ped., Dra. Elaine Rios, especialista em neonatologia e terapia intensiva pediátrica, o fechamento significaria um retrocesso histórico para toda a Regional de Saúde Pirineus, que abrange 10 cidades com população de 488.380 habitantes. “Como profissional de saúde há tantos anos, não dá para acreditar que o poder público vá deixar isso acontecer. Seria abandonar esses bebês e crianças à própria sorte, com muitos óbitos, tirando a chance de viver de várias crianças que necessitam desse serviço”, declarou em tom de preocupação.

SOLUÇÃO

A solução é a aplicação imediata de recursos por parte do Estado e do Município, os principais interessados na saúde e bem-estar de sua população, garantidos pela constituição e para quem a Santa Casa presta serviços, conforme já afirmado pela administração do hospital em outras oportunidades. Enquanto prefeito e governador não se posicionam junto ao hospital, os médicos seguem apreensivos, sem saber o futuro dos pacientes que dependem da UTI Pediátrica. “Esperamos que o Município e o Estado encontrem um meio de garantir a continuidade desse serviço, e assim evitar que nosso povo sofra ainda mais na busca de socorro para salvar nossos pequeninos”, completa Elaine.